Em uma inédita aparição em televisão, o imperador Akihito falou para os japoneses, num discurso tão calmo, realizado com tanta segurança, que o único indicador da gravidade da situação japonesa é o facto mesmo de ter discursado. Desde 1945 que nenhum monarca desse país fazia uma alocução deste género, intervenções reservadas para situações extremas: catástrofes o guerra.
Bastaram cinco minutos desta intervenção sem precedentes para criar um profundo impacto emocional nos japoneses. Além do facto de ser a primeira vez que um imperador discursa no pequeno ecrã, a mensagem foi despojada da linguagem própria da investidura do cargo. A diferença da famosa alocução em linguagem imperial (plena de expressões tradicionais chinesas: kanji) realizada pelo seu antecessor -o imperador Hirohito- na que informou aos japoneses da rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial, Akihito falou na linguagem do japonês comum. Transmitiu uma posição de segurança perante a grave crise, ao acompanhar a profunda preocupação que sente com uma comunicação corporal muito calma e serena. Exortou a trabalhar em conjunto: “Espero que juntos, de mãos dadas, superemos estes tempos difíceis". Uma posição de igualdade que derrubou as barreiras dinásticas ancestrais e o colocou muito perto do seu povo.
Em uma outra época, o discurso do imperador Hirohito esteve isento de igualdade. Executado com o tono imperativo próprio do origem divina atribuído a esses monarcas na altura, esteve pleno de elementos que tornaram essa histórica alocução, em uma comunicação persuasiva. Com o intuito de informar ao império da rendição de Japão, na Segunda Guerra Mundial e exortar aos combatentes a depor as armas, o discurso contrastou a situação do país nesse momento –guerra, violência- e as suas consequências, com um futuro de paz, cenário possível através de uma iminente solução: rendição. Mas as palavras derrota ou rendição nunca foram pronunciadas. Apelou ao uso de argumentos, contrastando o problema, as suas consequências, a solução e os benefícios, esquema de comunicação muito persuasivo, transversal para qualquer apresentação pública. Deixo aqui uma breve análise de algumas das mensagens do discurso intitulado: “A difusão da voz da jóia”.
Esquema | Frases |
Situação Actual - Problema | -“ Apesar de que generais e soldados do exército (..) tem lutado valentemente (…) já vão quatro anos de guerra..” |
Consequências | “…A trajectória da guerra não evoluiu em benefício do Japão” “A cruel bomba matou muitos cidadãos inocentes” “..Se continuarmos esta situação, a guerra acabará não só com a nação japonesa, mas também com a civilização humana”. |
Solução (Acções) | - Eu, imperador, depois de reflectir profundamente (…)tenho decidido adoptar como solução à presente situação, o recurso a uma medida extraordinária (Rendição) - “Exijo que evitem qualquer explosão de emoções que possa desencadear complicações desnecessárias” |
Benefícios | -“Abrir um caminho até a Paz…” -“Construir o futuro do Japão….” |
Frases empáticas com a audiência: Argumentos da solução | -“Estou consciente dos sacrifícios que terá de suportar o império…”(Fez alusão a objectivos comuns: Conectar com a audiência compreendendo as suas necessidades) -“Sigam à frente como uma família, de geração em geração, confiando firmemente na imortalidade do Japão divino” (Metáforas persuasivas) - “O bem-estar dos feridos e das vítimas de guerra, de aqueles que perderam seus lares e seus meios de vida são objecto de minha mais profunda preocupação”. (Profundo interesse pelas necessidades da audiência) |
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