sexta-feira, 18 de março de 2011

As mensagens dos imperadores japoneses



Em uma inédita aparição em televisão, o imperador Akihito falou para os japoneses, num discurso tão calmo, realizado com tanta segurança, que o único indicador da gravidade da situação japonesa é o facto mesmo de ter discursado. Desde 1945 que nenhum monarca desse país fazia uma alocução deste género, intervenções reservadas para situações extremas: catástrofes o guerra.

Bastaram cinco minutos desta intervenção sem precedentes para criar um profundo impacto emocional nos japoneses. Além do facto de ser a primeira vez que um imperador discursa no pequeno ecrã, a mensagem foi despojada da linguagem própria da investidura do cargo. A diferença da famosa alocução em linguagem imperial (plena de expressões tradicionais chinesas: kanji) realizada pelo seu antecessor -o imperador Hirohito- na que informou aos japoneses da rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial, Akihito falou na linguagem do japonês comum. Transmitiu uma posição de segurança perante a grave crise, ao acompanhar a profunda preocupação que sente com uma comunicação corporal muito calma e serena. Exortou a trabalhar em conjunto: “Espero que juntos, de mãos dadas, superemos estes tempos difíceis". Uma posição de igualdade que derrubou as barreiras dinásticas ancestrais e o colocou muito perto do seu povo.

Em uma outra época, o discurso do imperador Hirohito esteve isento de igualdade. Executado com o tono imperativo próprio do origem divina atribuído a esses monarcas na altura, esteve pleno de elementos que tornaram essa histórica alocução, em uma comunicação persuasiva. Com o intuito de informar ao império da rendição de Japão, na Segunda Guerra Mundial e exortar aos combatentes a depor as armas, o discurso contrastou a situação do país nesse momento –guerra, violência- e as suas consequências, com um futuro de paz, cenário possível através de uma iminente solução: rendição. Mas as palavras derrota ou rendição nunca foram pronunciadas. Apelou ao uso de argumentos, contrastando o problema, as suas consequências, a solução e os benefícios, esquema de comunicação muito persuasivo, transversal para qualquer apresentação pública. Deixo aqui uma breve análise de algumas das mensagens do discurso intitulado: “A difusão da voz da jóia”.

Esquema
Frases
Situação Actual - Problema
-“ Apesar de que generais e soldados do exército (..) tem lutado valentemente (…) já vão quatro anos de guerra..”
Consequências
“…A trajectória da guerra não evoluiu em benefício do Japão”
“A cruel bomba matou muitos cidadãos inocentes”
“..Se continuarmos esta situação, a guerra acabará não só com a nação japonesa, mas também com a civilização humana”.
Solução (Acções)
- Eu, imperador, depois de reflectir profundamente (…)tenho decidido adoptar como solução à presente situação, o recurso a uma medida extraordinária (Rendição)
- “Exijo que evitem qualquer explosão de emoções que possa desencadear complicações desnecessárias”
Benefícios
-“Abrir um caminho até a Paz…”
-“Construir o futuro do Japão….”
Frases empáticas com a audiência: Argumentos da solução
-“Estou consciente dos sacrifícios que terá de suportar o império…”(Fez alusão a objectivos comuns: Conectar com a audiência compreendendo as suas necessidades)
-“Sigam à frente como uma família, de geração em geração, confiando firmemente na imortalidade do Japão divino” (Metáforas persuasivas)
- “O bem-estar dos feridos e das vítimas de guerra, de aqueles que perderam seus lares e seus meios de vida são objecto de minha mais profunda preocupação”. (Profundo interesse pelas necessidades da audiência)






quarta-feira, 16 de março de 2011

El Discurso del Rey: El poder del silencio a la hora de hablar en público

Una mezcla de historia, comedia y drama, aderezados con fina ironía, podrían no haber funcionado muy bien. Sin embargo, son los géneros que aborda magistralmente  “El Discurso del Rey”, película de Tom Hooper que resultó ser la gran vencedora de la 83ª edición de los premios de la Academia.

Lejos de ser ésta una más de las muchas críticas escritas sobre este film, lo que pretendemos es destacar una de las técnicas usadas para mejorar  la habilidad de oratoria del Rey, una que ha sido poco destacada a pesar de su importancia. Es que para nosotros, apasionados por el tema de la comunicación efectiva a través de presentaciones públicas que generen impacto en la audiencia,  este film es una gran referencia.


                                       Haz click en la imagen para ver el trailer

En una fase en que Europa estaba amenazada por un señor austríaco que hablaba muy bien y que asustaba por su capacidad de cautivar las masas con su discurso bélico,  era imperativo para Inglaterra un rey que supiese comunicar y transmitir el  liderazgo y la unión necesarias ante la avanzada alemana. Sin embargo, Bertie (como era llamado en la intimidad del reino), ahora Rey Jorge VI, tenía otra guerra por vencer: graves problemas de dicción y profunda inseguridad. Por eso recibe la ayuda de Lionel Logue (actor Geoffrey Rush), un plebeyo con métodos nada ortodoxos para la época. Técnicas que conducen a Jorge VI a una zona de confort donde transformar su miedo en energía, liberada a través de sus discursos. La práctica constante, abundante en recursos, aprovecha las pausas típicas de la tartamudez como herramienta: el poder del silencio.

En la última práctica, antes de su primer discurso de guerra, mientras un nervioso Jorge VI repetía el texto, con muchas fallas, Logue le pide que pare antes de decir cada frase, que haga una pausa, que deje un espacio en blanco. Su desempeño mejoró notablemente. Diminutas pausas pasaron a ser silencios significativos. Logue le dijo que fue porque las pausas imprimen importancia, solemnidad al mensaje. Irónicamente Jorge VI contestó: “Entonces seré el Rey más solemne de la historia”.

Cuantas veces, en situación de presentación, no hacemos ni una sola pausa por temor al silencio, a tener de lidiar con las miradas en espacios en blanco? Preferimos llenar ese  vacío con palabras que pueden llegar a ser repetitivas. Este recurso del silencio es poderoso, significa que a seguir diremos algo importante, transmite pasión, confianza, convicción sobre lo que viene después, un recurso para tomar en cuenta a la hora de hacer presentaciones, comprobadamente útil hasta en la historia de la oratoria en la realeza británica.




O Discurso do Rei: O poder do silêncio na hora de falar em público

Uma mistura de história, comédia e drama, temperados com fina ironia, podiam não ter funcionado tão bem. No entanto, são os géneros que aborda magistralmente "O Discurso do Rei”, filme de Tom Hooper que foi o grande vencedor da 83ª edição dos prémios da Academia.

Mas longe de ser mais uma das muitas críticas escritas sobre este filme, o  intuito é sublinhar uma das técnicas usadas para melhorar a habilidade de oratória do Rei, uma que tem sido pouco referenciada apesar da sua importância. É que para nós, apaixonados pelo tema da comunicação bem sucedida através de apresentações públicas efectivas, este filme é uma grande referência.




Numa fase em que a Europa estava ameaçada por um senhor austríaco que falava muito bem e assustava pela capacidade de cativar as massas com seu discurso bélico, a Inglaterra precisava de um rei que comunica-se bem, com capacidade de liderança e união ante a avançada alemã. Todavia, Bertie (como era chamado na intimidade pelo reino), agora o Rei Jorge VI, tinha uma outra guerra a vencer: graves problemas de dicção e profunda insegurança. Para isso, recebe a ajuda de Lionel Logue (actor Geoffrey Rush), um plebeu com métodos nada ortodoxos para a época. Técnicas estas que levam Jorge VI a uma zona de conforto onde transformar o medo em energia, libertada através dos seus discursos. O treino constante, abundante em recursos, aproveita as pausas típicas da gaguez como ferramenta: o poder do silêncio.

No último treino, antes do primeiro discurso na guerra, enquanto um nervoso Jorge VI repetia o texto, com muitas falhas, Logue pede-lhe para parar antes de cada frase, fazer uma pausa significativa, um espaço em branco. O desempenho melhorou notavelmente. Diminutas pausas passaram a ser silêncios significativos. Logue disse-lhe que foi porque as pausas imprimem importância, solenidade a mensagem. Ao que ironicamente Jorge VI replicou: “Então serei o Rei mais solene da história”.

Quantas vezes, em situação de apresentação, não paramos de falar por temor ao silêncio, a ter de lidar com os olhares, em espaços sem som? Preferimos preencher o vazio com palavras que podem chegar a ser repetitivas. Este recurso do silêncio é poderoso, significa que a seguir iremos dizer algo importante, transmite paixão, confiança, convicção sobre o que vem a seguir, um recurso para levar em conta à hora de fazer apresentações efectivas, comprovadamente útil até na história da oratória na realeza britânica.