Uma chamada de trabalho interrompeu esta tarde um jogo que estava a partilhar com a minha bebé de 10 meses. Fiquei algo preocupada com a informação que recebi. Quando voltei a olhar para a bebé, reparei que ela tinha um inocente ar de preocupação na sua carinha. Comecei a sorrir e ela imediatamente voltou ao ambiente de brincadeira, mas o incidente fez-me lembrar dos fascinantes neurónios-espelho.
Foi em 1996, durante o desenvolvimento de um experimento com macacos que visava aprofundar o estudo do cérebro, quando o cientista Giacomo Rizzolatti da Universidade de Parma (Itália) fez a descoberta que tem vindo a ser considerada uma das áreas mais ricas da neurociência, e foi um acaso do destino. Um membro da equipa agarrou uma uva passa. Imediatamente, no cérebro do macaco, activaram-se neurónios, tal e como se o animal tivesse feito a acção. A partir desse dia as investigações não param de arrojar resultados surpreendentes, mas, em sínteses, podemos afirmar que os neurónios-espelho permitem fazer próprias as acções e sentimentos dos outros. Compreender o seu funcionamento ajuda-nos a perceber, por exemplo, porque nos emocionamos tanto ao ver a dor de um actor num filme. Demonstram -de maneira biológica- que somos seres sociais capazes de entender as emoções alheias.
Aplicando esta teoria ao campo da oratória podemos perceber, claramente, porque as audiências imitam as emoções do apresentador. Se o orador parece nervoso, com vontade a finalizar e ir embora, com certeza o público espelhará este sentimento negativo e estará a contar os minutos para sair da sala. Por outro lado, um apresentador envolvido e apaixonado pelo tema que está a expor irá a gerar uma imitação positiva na audiência, potenciando o seu poder persuasivo e a eficácia na transmissão da mensagem.