terça-feira, 26 de abril de 2011

As audiências são perversas ou só espelham as emoções do orador?




Uma chamada de trabalho interrompeu esta tarde um jogo que estava a partilhar com a minha bebé de 10 meses. Fiquei algo preocupada com a informação que recebi. Quando voltei a olhar para a bebé, reparei que ela tinha um inocente ar de preocupação na sua carinha. Comecei a sorrir e ela imediatamente voltou ao ambiente de brincadeira, mas o incidente fez-me lembrar dos fascinantes neurónios-espelho.

Foi em 1996, durante o desenvolvimento de um experimento com macacos que visava aprofundar o estudo do cérebro, quando o cientista Giacomo Rizzolatti da Universidade de Parma (Itália) fez a descoberta que tem vindo a ser considerada uma das áreas mais ricas da neurociência, e foi um acaso do destino. Um membro da equipa agarrou uma uva passa. Imediatamente, no cérebro do macaco, activaram-se neurónios, tal e como se o animal tivesse feito a acção. A partir desse dia as investigações não param de arrojar resultados surpreendentes, mas, em sínteses, podemos afirmar que os neurónios-espelho permitem fazer próprias as acções e sentimentos dos outros. Compreender o seu funcionamento ajuda-nos a perceber, por exemplo, porque nos emocionamos tanto ao ver a dor de um actor num filme. Demonstram -de maneira biológica- que somos seres sociais capazes de entender as emoções alheias.

Aplicando esta teoria ao campo da oratória podemos perceber, claramente, porque as audiências imitam as emoções do apresentador. Se o orador parece nervoso, com vontade a finalizar e ir embora, com certeza o público espelhará este sentimento negativo e estará a contar os minutos para sair da sala. Por outro lado, um apresentador envolvido e apaixonado pelo tema que está a expor irá a gerar uma imitação positiva na audiência, potenciando o seu poder persuasivo e a eficácia na transmissão da mensagem.

2 comentários:

  1. Penso que isto seja natural do ser humano. Somos quase todos como uma "esponja" e absorvemos tudo.

    Ou quase tudo. Quando se determina ter um pouco de consciência, é positivo, pois deixamos de ser influenciáveis, principalmente pela mídia.

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  2. Exactamente. Tal e como você disse "absorvemos tudo". Através da descoberta dos neurónios-espelho sabemos que o facto de compreender as emoções e sensações dos outros e senti-las como próprias tem uma origem biológica, isto é: somos seres completamente sociais. O cientista Rizzolati, responsável pela descoberta, até afirmou numa entrevista ao El País que quando uma pessoa está deprimida e não sabe porque, é por falta de vínculos (família, amigos), que lamentavelmente, em algumas sociedades de hoje, não são muito valorizados.

    No campo da oratória é uma informação que nos ajuda a saber por que as audiências imitam a emoção transmitida pelo apresentador. Claro está que uma vez entendida e imitada a emoção vem uma posterior parte cognitiva que determina as nossas escolhas. Cumprimentos e até breve!

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